Crônica para reflexão
O que estamos fazendo com os nossos animais
06 de março de 2010
A trágica morte da treinadora no Sea World relembrou meus sonhos de infância. Como muitos garotos, eu tinha três sonhos: me tornar médico, astronauta ou biólogo (veterinário ou treinador) de animais selvagens na África. Se mudássemos para os dias de hoje, provavelmente trocaria a última opção por treinador de orcas. Imagine você interagir todo o dia com estas maravilhosas criaturas da natureza? Quem já assistiu a um show no Sea World sabe do que eu estou falando.
Sou muito afortunado por ter realizado meu sonho de infância e me tornado médico, mas a questão da treinadora mexeu comigo. Um animal de seis toneladas, acostumado a nadar mais de 100 quilômetros por dia, confinado num tanque, é um castigo de grandes proporções. Comparando, imagine você passando anos a fio preso na banheira de sua casa. Será que a orca atacou a treinadora ou estava somente brincando com ela embaixo d’água, ou ainda ficou estressada após décadas de cativeiro? Nunca saberemos.
Mas o que chama a atenção é o que estamos fazendo com os nossos animais. Lógico que as pessoas justificam estes parques e zoológicos com a premissa de que eles desenvolvem a consciência ecológica das pessoas, que vendo de perto os animais selvagens aprenderão a respeitá-los. Mas será que temos o direito de mantê-los cativos? Não esqueça que a escravidão até pouco mais de cem anos era justificada legalmente e nem a Igreja levantava a voz contra o tráfico de seres humanos.
Como todo garoto, sempre quis também ter um zoológico em casa: cachorro, gato, hamster, coelho, passarinhos, peixes, tartarugas… Justificava para o meu pai que não haveria mal nenhum em ter passarinhos em casa, pois eles foram criados em cativeiro e não sobreviveriam fora da gaiola por muito tempo. Aprendi a primeira e a mais importante lição da medicina (apesar de meu pai não ser médico): a empatia. Meu pai me ensinou a importância de se colocar no lugar do outro, e me disse: “Se você fosse um passarinho, preferiria viver 30 anos nesta gaiola sem poder conhecer as florestas, sem poder realmente voar; ou viver um dia pleno, livre, mesmo que fosse somente um dia?”.
Fonte: A Notícia
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